Esta obra é composta por dois livros, que poderiam ser publicados separadamente, mas preferi juntá-los. No Livro Irecê, A Saga dos Imigrantes faço um relato minucioso da saga dos cearenses, sergipanos, paraibanos, pernambucanos, rio-grandenses e outros “nortistas” que abandonaram sua terra natal e se aventuraram em cima de um pau-de-arara, rumo a Irecê, criando seus filhos aqui e aqui sepultando seus mortos. No segundo livro, Irecê, Histórias de Sucesso, narro um resumo histórico de alguns importantes empreendedores de Irecê e de algumas empresas.
O jegue só deixa seu lugar depois que rói a derradeira casca e ainda teima muito para não sair. O imigrante “nortista” também só deixou sua terra, no derradeiro pau-de-arara, fugindo da seca inclemente e da falta de oportunidade e partindo rumo à terra que “manava leite e mel”. E foram tão bem acolhidos que adotaram Irecê como seu “torrão natal”.
Por volta dos anos 40, as roças eram pequenas, mas chovia muito e produzia. Havia muitos engenhos em Irecê e muitas casas de farinha. Mas não saía uma carga de rapadura para fora, não saía um saco de farinha, não saía um saco de milho, nem um saco de feijão. O que saía daqui era, principalmente, o toucinho e a banha de porco. Quase todos tinham uma chiqueirada.
Alguns dos que aqui chegaram vinham com a intenção de ficar. Outros, no entanto, queriam apenas trabalhar na safra, a fim de arranjar algum dinheiro e conseguir chegar até São Paulo.
Acontece que, devido a fatores climáticos, muitas vezes a safra era frustrada e o que ganhavam não dava para continuar viagem. Permaneciam em Irecê, aglomerando-se em espécies de guetos, vivendo em condições sub-humanas. Apesar dos paus-de-arara, nem todo imigrante chegou em condição miserável. Muitos trouxeram algum capital para investirem em Irecê.
Trata-se de um povo corajoso, destemido, acostumado a enfrentar a fúria das secas e a hipocrisia dos políticos, que desde a época de D. Pedro prometem um fim ao sofrimento. Apesar de derrotado pelas sucessivas secas, o nordestino sobrevive, alimentando-se, às vezes, com uma minguada ração, suficiente apenas para mantê-lo vivo. E enquanto vivo, enterram até o último grão que lhe resta e fica olhando para o céu, em busca de uma nuvem e para o norte, em busca de um relâmpago.
O nordestino não é símbolo de atraso, como muitos pensam. Apesar da discriminação e da violência a que é submetido, tem deixado seu rastro na história do Brasil, dos estados e cidades do interior, onde fixam residência. O nordestino Luis Inácio Lula da Silva, por exemplo, saiu de Pernambuco em um pau-de-arara e foi escolhido pelo povo brasileiro para dirigir o país. São Paulo, o mais importante centro industrial do Brasil, deve sua pujança política, empresarial, cultural, médica e jurídica, em grande parte, aos nordestinos.
Dois deles, o cearense Freitas Nobre e a paraibana Luíza Erundina foram prefeitos e fizeram uma administração honrada. Foi o cearense Luiz Severiano Ribeiro quem espalhou cinemas pelo país. Foi o pernambucano Ermírio de Morais (o velho) quem saiu de Pernambuco e fundou o império Votorantim em São Paulo, que emprega, atualmente, cerca de 70 mil pessoas, em vários estados. Na Bahia, destacaram-se os nordestinos Nina Rodrigues, natural do Maranhão, o alagoano Estácio de Lima, e o pernambucano Manoel Novaes, entre tantos outros.
Se Irecê vem reconquistando sua importância nacional, transformando-se na terra da avestruz, na terra da cebola, na terra da cenoura, na terra do feijão, na terra da alfafa e na terra da mamona, parte disso se deve aos imigrantes.
Eles estão espalhados por toda parte – nas ruas, nas praças, nos povoados – dando preciosa contribuição no comércio, na lavoura, na arte, na cultura, na indústria, na política e na educação. São tantos, que a maior família de “nortistas”, os Marianos, contam com quase mil pessoas em Irecê! Pode-se dizer que Irecê realmente tem a cara de imigrantes.
Provavelmente, se permanecesse em Irecê somente famílias tradicionais como Marques, Dourado, França, Moitinho, Cambuí, o índice populacional não teria crescido tanto. Com o aumento do fluxo migratório, sobretudo nos anos 70, a população da microrregião aumentou significativamente e Irecê entrou em ritmo acelerado de desenvolvimento. Estamos vivendo um período de grande desenvolvimento, o que pode ser percebido na quantidade de novas casas e de ruas que estão surgindo em Irecê.
Esta mistura de raças, culturas e etnias se acentuou com o transcorrer do tempo e marcou profundamente a vida cultural, social e econômica de Irecê. Graças a esta miscigenação que deu certo, não só de raças, mas também de costumes, podemos dizer que aprendemos muitas coisas com os “nortistas” e eles conosco, apesar deste aprendizado está meio difuso, quase imperceptível.
O estado da Paraíba, por exemplo, continua tendo grande importância no desenvolvimento de Irecê. No início exportando mão de obra pesada ou primária. Atualmente, no entanto, exporta doutores para Irecê, pois o maior índice de pessoas formadas em nível superior, na região de Irecê, vem das universidades da Paraíba.
Esta obra é um tratado sobre imigrantes e do mesmo modo que eu aprendi, ouvindo centenas deles, sobretudo os mais velhos, você também vai aprender, bastante, durante a leitura.
E se divertir também!
Autor: Jackson Rubem
Editora: Print Fox
ISBN: 85-87498-05-3
Ano da publicação: 2004
(Primeira edição esgotada, mas você pode concorrer a um exemplar do livro, participando dos nossos sorteios).
Veja as fotos da noite de autógrafos
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Fotos da noite de autógrafos do livro Irecê: A Saga dos Imigrantes
Fotos do lançamento da 1ª edição livro Irecê: História, Casos e Lendas
Sobre o livro Irecê, Um Pedaço Histórico da Bahia
Fotos lançamento de livros do escritor Jackson Rubem
Noite de autógrafos: Lapão, Cem anos de História-Galeria fotos
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